Sobre Netnografia

Sobre Netnografia

por ADRIANE MARTINS BEIRAUTI -
Número de respostas: 1

Olá, turma!!!

Cá estou eu... Tenho por costume me aprofundar um pouco mais em certos assuntos, não por interesse de uso, mas porque sou curiosa e eterna estudante.

Vamos lá:

Se, segundo a proposta de Kozinets, a netnografia visa o estudo de comunidades, fóruns, blogs etc., surgiu-me a dúvida sobre o objeto de estudo.

Em relação à etnografia, li o seguinte em um material “A última unidade de análise não é a pessoa, mas, sim, o seu comportamento ou ato” (MEAD, 1950)

E isto: “Coletam dados sobre as experiências humanas vividas que tem por fim discernir padrões previsíveis, muito mais do que descrever todas as instâncias imagináveis de interação ou produção.” (ANGROSINO, 2009, grifo nosso)

Entendendo que em um grupo o comportamento ou ato de uma pessoa reflete, além de sua subjetividade, a cultura desse grupo (seja qual for o ambiente, mas sem desconsiderar que o ambiente físico influencia na cultura - e isso é algo muito relevante), percebi que ainda estou em dúvida.

Se em uma comunidade virtual as pessoas são transitórias- de maneira mais volátil (pra me fazer entender) que em um local físico (pensando aí quando se utiliza a etnografia), por que não posso utilizar a netnografia para estudar o comportamento de alunos em determinada disciplina (ministrada de forma remota) ainda que as turmas mudem? Não posso pensar que, a partir disso, posso tentar “discernir padrões previsíveis”?

No caso, se pensar em Educação, para estudar o comportamento e tentar achar algum padrão para “auxílio pedagógico” ou qualquer outro fim relacionado às aulas remotas? Não só do operacional da tecnologia, mas, por exemplo, como mencionei no último fórum: duas turmas, da mesma grande área (Humanas), porém cursos diferentes (História e Filosofia), mesmo professor, mesmo plano de ensino, mesmas tecnologias utilizadas para aula remota, nºs  de evasão distintos - a netnografia poderia ser utilizada? Ou ainda que não nesse caso, mas estudo do comportamento dos alunos em outra situação?

O que não captei que ainda estou com esta dúvida?

Muito grata a quem der atenção, mesmo que não sane a minha dúvida.

Abraços


Em resposta à ADRIANE MARTINS BEIRAUTI

Re: Sobre Netnografia

por VIVAZ ERNESTO FRANCISCO BANDEIRA BANDEIRA -
Olá, Adriane

Já somos dois.

Aqui vai minha contribuição:
Pensar a «etnografia» como a captura ou fotografia dos «etnemas e atropemas» in natura, agora apropriada (com as devidas modificações) pelo pesquisador para estudar fenómenos que se dão no espaço virtual/ciberespaço, mediado pela internet, implica necessariamente considerar o seguinte:
1. O que o pesquisador quer estudar? (ex: sociabilidades, práticas de consumo mediático, fenómenos comunicacionais, questões identitárias e de linguagem, etc.)
2. A partir de que ângulo ou perspectiva irá estudar? (observação, inserção, contato intra-subjetivo)
3. Que critérios de confiabilidade e filtragem da informação irá usar?
Todos estes aspetos são determinados pela pergunta de pesquisa, formulada em função do problema da pesquisa. O problema e a forma como a pergunta é formulada irão determinar os objetivos da pesquisa e estes ditarão as opções metodológicas para estudar o objeto. E todas estas questões devem ter uma base comum: as posições epistemológicas assumidas pelo pesquisador! (a este respeito, veja-se o livro recentemente publicado pelo antigo Reitor da UFPR, José Henrique de Faria, intitulado «Introdução a epistemologia: Dimensões do ato epistemológico»).

Por outro lado, considero que a netnografia é, por excelência, uma técnica de pesquisa qualitativa e, neste sentido, o que conta não é sua perspectiva extensiva, mas sua natureza intensiva. O que chama de padrões previsíveis, deverá, na minha opinião, ser visto como comportamento típico em função de um contexto e grupo bem definidos/específicos, sem pretensões de generalizações (ou talvez até rever o conceito).
Na linha interacionista simbólica de George Herbert Mead (1950), é possível compreender o comportamento de cada turma, já que o professor é o mesmo (assim como o programa, a plataforma, a área científica dos cursos), contanto que terá de considerar os jogos de significados que emergem do contexto (ciberespaço, grupo de alunos, professor, as matérias, os recursos usados, as linguagens, etc.), também ele simbólico, que determinam tais comportamentos/ações dos sujeitos que quer estudar.
Abraços