E quando o comportamento é o do jeitinho brasileiro?

Re: E quando o comportamento é o do jeitinho brasileiro?

by Jeferson de Paula -
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Excelente ponto, especialmente ao trazer o “jeitinho brasileiro” para o debate. Concordo que esse traço cultural possui uma ambiguidade importante: ao mesmo tempo em que revela capacidade de adaptação e criatividade, pode também funcionar como um mecanismo de bypass das regras, onde é justamente a governança se fragiliza.

Na perspectiva da boa governança, o desafio não é eliminar a criatividade cultural, mas orientar o comportamento dos dirigentes para que a flexibilidade não se transforme em permissividade. Quando líderes tratam normas como barreiras a serem contornadas, mesmo sob justificativas operacionais, eles enviam um sinal claro para a organização: resultados importam mais do que integridade. Isso rapidamente deteriora a cultura ética e aproxima a governança de um ritual formal, sem efetividade.

Por outro lado, quando dirigentes mantêm postura ética (mesmo diante de pressões, prazos ou informalidades culturais) o “jeitinho” pode ser ressignificado como capacidade de resolver problemas de forma criativa, mas dentro dos limites institucionais. Nesse sentido, o comportamento do líder funciona como contraponto à cultura mais permissiva, reforçando que governança não é sinônimo de rigidez, mas de coerência.

No fundo, sua reflexão mostra que a governança brasileira não precisa negar o contexto cultural; ela precisa elevar o padrão do comportamento, para que criatividade e integridade deixem de ser opostos e passem a coexistir.