Trabalhando no setor de transporte, percebi na prática como os valores pessoais dos dirigentes podem influenciar toda a cultura da empresa. Em uma transportadora onde atuei, o diretor de frota era conhecido pela disciplina e pela prioridade absoluta em segurança. Seu valor principal era simples: “melhor perder uma viagem do que arriscar uma vida”. Isso refletia diretamente no comportamento de todos.
Sempre que havia pressão por prazos apertados, ele deixava claro que não autorizaria motoristas cansados ou veículos sem manutenção para sair. Com isso, criou-se uma cultura onde seguir normas não era visto como burocracia, mas como parte da identidade da empresa. Os motoristas passaram a ter mais cuidado com tacógrafo, jornada e inspeção diária. A oficina também se tornou mais rigorosa, porque sabiam que ele prezava pela integridade do processo, e não por números bonitos.
Por outro lado, anos antes desse diretor chegar, havia outro gestor que tinha valores completamente diferentes: para ele, o importante era “fazer a carga andar de qualquer jeito”. Esse tipo de pensamento incentivava atalhos, improvisos, e até pequenos abusos de jornada. O resultado era um ambiente em que as normas eram vistas apenas como obstáculos. Pequenos desvios eram normalizados, e isso acabava afetando tanto a segurança quanto a confiabilidade da empresa.
A comparação entre esses dois momentos mostra claramente: os valores dos dirigentes influenciam diretamente o comportamento das equipes e, consequentemente, a cultura de governança da organização. Quando os líderes têm ética, transparência e coerência, a organização tende a seguir o mesmo caminho. Quando os valores são frágeis ou distorcidos, isso se espalha e compromete o todo.