Como os valores individuais dos dirigentes impactam a cultura de governança em uma organização

Como os valores individuais dos dirigentes impactam a cultura de governança em uma organização

por ERICSON DRUSZKOSKI DE ALMEIDA -
Número de respostas: 2

Trabalhando no setor de transporte, percebi na prática como os valores pessoais dos dirigentes podem influenciar toda a cultura da empresa. Em uma transportadora onde atuei, o diretor de frota era conhecido pela disciplina e pela prioridade absoluta em segurança. Seu valor principal era simples: “melhor perder uma viagem do que arriscar uma vida”. Isso refletia diretamente no comportamento de todos.

Sempre que havia pressão por prazos apertados, ele deixava claro que não autorizaria motoristas cansados ou veículos sem manutenção para sair. Com isso, criou-se uma cultura onde seguir normas não era visto como burocracia, mas como parte da identidade da empresa. Os motoristas passaram a ter mais cuidado com tacógrafo, jornada e inspeção diária. A oficina também se tornou mais rigorosa, porque sabiam que ele prezava pela integridade do processo, e não por números bonitos.

Por outro lado, anos antes desse diretor chegar, havia outro gestor que tinha valores completamente diferentes: para ele, o importante era “fazer a carga andar de qualquer jeito”. Esse tipo de pensamento incentivava atalhos, improvisos, e até pequenos abusos de jornada. O resultado era um ambiente em que as normas eram vistas apenas como obstáculos. Pequenos desvios eram normalizados, e isso acabava afetando tanto a segurança quanto a confiabilidade da empresa.

A comparação entre esses dois momentos mostra claramente: os valores dos dirigentes influenciam diretamente o comportamento das equipes e, consequentemente, a cultura de governança da organização. Quando os líderes têm ética, transparência e coerência, a organização tende a seguir o mesmo caminho. Quando os valores são frágeis ou distorcidos, isso se espalha e compromete o todo.

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Re: Como os valores individuais dos dirigentes impactam a cultura de governança em uma organização

por GABRIEL GUSMÃO MENDES DA SILVA -
Ericson, achei muito interessante a forma como você trouxe dois “momentos de liderança” na mesma empresa, porque isso mostra bem a diferença entre governança formal e governança efetiva. No papel, a transportadora provavelmente já tinha normas de segurança, controles e procedimentos. Mas, na prática, só quando o diretor de frota assumiu a segurança como valor pessoal (“melhor perder uma viagem do que arriscar uma vida”) é que essas regras ganharam vida no dia a dia.

O que me chama atenção é que o comportamento dele funcionou como um “filtro” para todas as decisões: prazo apertado, pressão do cliente, custo de manutenção… tudo passava primeiro pela lente da integridade do processo. Isso, na linguagem de governança, é o famoso “tone at the top”. Quando o tom lá de cima é coerente com os princípios (segurança, ética, responsabilidade), a cultura se alinha; quando o líder anterior normalizava atalhos, abria espaço para que a própria estrutura de governança fosse driblada.

Pra mim, o seu exemplo mostra que os valores dos dirigentes não só influenciam o comportamento individual, mas definem até onde a governança vai: se ela fica só no manual ou se vira parte da identidade da empresa.
Em resposta à ERICSON DRUSZKOSKI DE ALMEIDA

Re: Como os valores individuais dos dirigentes impactam a cultura de governança em uma organização

por Daniel Antonio Zilli Carvalho -
Muito interessante seu relato! Ele mostra de forma prática como os valores pessoais dos líderes são determinantes para a cultura organizacional. A governança não se sustenta apenas em normas escritas. Ela depende da coerência entre discurso e prática. Quando um dirigente coloca a segurança acima de qualquer pressão comercial, isso não só orienta decisões, mas também cria um senso de propósito compartilhado.
O contraste entre os dois gestores é muito rico: um reforçou a integridade e a conformidade, transformando regras em identidade; o outro, ao priorizar resultados imediatos, gerou um ambiente permissivo, onde desvios se tornaram aceitáveis. Essa diferença evidencia que liderança é um vetor de cultura e que governança começa pelo exemplo.
A grande lição é que valores propagam e moldam comportamentos. Por isso, investir em líderes alinhados à ética e à segurança é tão estratégico quanto qualquer tecnologia ou processo.